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O avanço da inteligência artificial tem pressionado empresas a reduzir suas equipes e redesenhar seus processos. Recentemente a Microsoft anunciou a demissão de cerca de 9 mil pessoas, enquanto executivos da Amazon projetaram que o uso da IA deverá reduzir a força de trabalho total da companhia nos próximos anos.
O movimento, já perceptível em gigantes como Google e Meta desde 2022, acirrou uma discussão fundamental: quem será mais impactado pelas demissões causadas pela inteligência artificial — os jovens recém-formados ou os profissionais experientes?
Não há consenso entre os especialistas. De um lado, executivos como Dario Amodei, da Anthropic, avaliam que a IA poderá substituir até metade das funções de entrada no mercado de trabalho em cinco anos. As tarefas iniciais e repetitivas são mais facilmente automatizáveis, o que reforça a preocupação com a empregabilidade de trabalhadores novatos — especialmente em áreas técnicas como programação, análise de dados e atendimento ao cliente.
Do outro lado do debate, há quem acredite que a tecnologia deve afetar mais os trabalhadores experientes, especialmente os que se mostram mais resistentes à adoção da IA. Para Brad Lightcap, diretor de operações da OpenAI, “a tecnologia poderia causar problemas para uma classe de trabalhadores que, na minha opinião, é mais estável e mais orientada para a rotina de uma determinada maneira de fazer as coisas”.
Dados mostram queda entre iniciantes e retenção entre experientes
Análises recentes indicam que o impacto imediato da IA tem sido mais severo entre os trabalhadores de início de carreira. Dados da ADP mostram que, em áreas como informática, o número de empregados com menos de dois anos de experiência caiu entre 20% e 25% desde 2023. Já os trabalhadores com mais tempo de casa foram preservados.
Em outro estudo, pesquisadores da Universidade da Califórnia compararam a produtividade de programadores na Itália — onde o uso do ChatGPT foi temporariamente proibido — com profissionais de França e Portugal. O resultado: a IA beneficiou mais os profissionais de nível médio e sênior, que passaram a contribuir melhor em equipe, revisar códigos e atuar em múltiplas linguagens. O impacto foi menor entre iniciantes, cujas tarefas básicas foram apenas aceleradas.
“Quando as pessoas são realmente boas em alguma coisa, o que elas acabam fazendo é ajudar outras pessoas em vez de trabalhar em seus próprios projetos”, explicou Sarah Bana, uma das autoras do estudo.
Mas a IA também ameaça posições de alto nível
Por outro lado, a substituição de habilidades antes consideradas raras preocupa setores como direito e engenharia. Segundo Danielle Li, economista do MIT, “esse estado do mundo não é bom para trabalhadores experientes. Você está sendo pago pela raridade de sua habilidade, e o que acontece é que a IA permite que a habilidade viva fora das pessoas”.
Na prática, isso significa que advogados, engenheiros e analistas sêniores também estão em risco, especialmente se relutarem em incorporar as ferramentas de IA no cotidiano.
O advogado Robert Plotkin, que atua com propriedade intelectual, relatou que sua empresa reduziu pela metade o número de advogados contratados desde que passou a usar IA generativa. “Tornei-me muito eficiente no uso da IA como uma ferramenta para me ajudar a redigir pedidos de forma a reduzir nossa necessidade de contratar advogados”, afirmou.
Gigantes de tecnologia cortam o meio da pirâmide
Entre os trabalhadores afetados pelas demissões recentes em big techs estão gerentes intermediários e desenvolvedores experientes, cargos que tradicionalmente ocupam o meio da pirâmide organizacional. Para empresas como a Microsoft, reduzir cargos com altos salários e pouca adaptação à IA tem sido um caminho para manter margens de lucro, ao mesmo tempo em que investem bilhões em chips, data centers e novos modelos de linguagem.
Segundo Gil Luria, analista do banco D.A. Davidson, “há pessoas sênior que descobriram como tirar proveito da IA e pessoas sênior que insistem que a IA não pode escrever código”. Para ele, as empresas estão fazendo cálculos objetivos para decidir quem agrega valor.
Já Harper Reed, CEO da 2389 Research, resume o raciocínio econômico que norteia esse modelo: “Você pega o funcionário mais barato e faz com que ele valha o funcionário mais caro”. A estratégia envolve contratar iniciantes, treiná-los no uso de IA e manter apenas um pequeno número de supervisores.
O risco da polarização no mercado de trabalho
Estudos apontam que o cenário mais provável é o de enxugamento do nível intermediário, com crescimento de funções sênior estratégicas e ampliação da base operacional treinada em IA. Um levantamento com executivos feito pela consultoria Gartner indica que CEOs já admitem não precisar mais de tantos gerentes quanto no passado.
“Tudo o que for administrativo, relacionado a planilhas, onde houver um rastro de e-mail, uma atividade do tipo gerenciamento de documentos, a IA deve ser capaz de realizar com bastante facilidade”, diz David Furlonger, da Gartner. “Os CEOs estão sugerindo nos dados que não precisamos de tantos deles como precisávamos anteriormente.”
Com isso, a estrutura corporativa tende a mudar: menos hierarquia, mais eficiência operacional e equipes enxutas apoiadas por ferramentas de automação. O desafio, apontam analistas, será a transição para trabalhadores que não conseguirem se adaptar rapidamente — sejam eles novatos ou veteranos.
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