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O empreendedor indígena do povo Kokama, Joeliton Vargas Moraes, 26, criou a startup Ikaben, com o objetivo de usar blockchain para proteger a propriedade intelectual dos grafismos indígenas e garantir repasse financeiro justo às comunidades por suas produções culturais. Natural de São Paulo de Olivença, no Alto Solimões, Amazonas, Moraes realiza o sonho de criança de empreender e valorizar sua cultura.
A Ikaben foi uma das selecionadas na quinta edição do edital Elos da Amazônia – Empreendedorismo Científico Indígena, realizado pelo Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), Programa Prioritário de Bioeconomia, Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Instituto de Desenvolvimento Tecnológico (INDT) e com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).
“Esses editais são primordiais porque abrem portas para um novo mercado que, historicamente, nos exclui ou nos coloca como parte do passado. A nossa cultura e a nossa herança estão vivas, sendo reinventadas por quem vive aqui. O grande desafio não é a falta de talentos ou ideias, mas a falta de recursos e rede de apoio”, afirma Joeliton Vargas Moraes.
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Como tudo começou
Formado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Moraes entrou na faculdade em 2017, mas a pandemia o obrigou a interromper os estudos.
Ele retornou ao seu município, São Paulo de Oliveira, e passou a lecionar para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos. Durante dois anos, ele ensinou português, matemática, ciências e geografia. Essa experiência também foi enriquecedora para o próprio Moraes.
“Ensinar me proporcionou aprender sobre a dificuldade do meu povo, ver os costumes sendo esquecidos. Conheci a realidade das comunidades e como não temos uma catalogação de uma cultura milenar, dos nossos grafismos. Essa experiência mudou a minha visão.”
O impacto da tecnologia
Quando retornou à universidade, em 2023, Moraes começou a cursar a disciplina de empreendedorismo. Nessa época, ele já estava vendendo bonés comprados na capital Manaus (AM) para sua comunidade.
Durante a aula, o professor o desafiou a criar um negócio próprio, o que levou Moraes a refletir sobre como valorizar a cultura do seu povo, em vez de apenas comercializar produtos de fora.
“Eu pertencia àquele povo e não sabia como ajudar. Olhava de forma diferente, meu objetivo era levar produtos bons para os meus parentes, mas eu fazia de forma errada. Ao invés de captar recursos para eles, eu estava enviando o dinheiro para fora da comunidade.”
Moraes decidiu usar a moda como ferramenta para contar a história do seu povo. Encontrou empresas que utilizam arte indígena para criar produtos vendidos em lojas internacionais, mas sem remuneração justa para os artistas indígenas.
“Encontrei empresas que utilizam da arte indígena em produtos comercializados em lojas internacionais, mas o povo detentor da cultura não é valorizado, nem reconhecido, por remuneração direta. Refleti muito e decidi dar um basta na apropriação cultural que sofremos há milênios”.
O que é Blockchain?
Blockchain é uma tecnologia de registro digital descentralizado que garante a segurança e transparência das informações. No caso da Ikaben, o blockchain é usado para rastrear e autenticar cada peça de arte indígena.
Isso assegura que os produtos sejam genuínos e garante que os artesãos recebam um pagamento justo, com a rastreabilidade das peças desde a sua produção até a venda.
Cada item tem um registro digital único que inclui informações como o nome do artesão, o local de produção e o significado cultural da arte.
Crescimento da startup
A Ikaben foi criada inicialmente em 2023 como uma loja online de roupas com grafismos do povo Kambeba. Agora, com o apoio do cheque de R$ 1 milhão do edital, a startup vai acelerar a implementação de blockchain, garantindo a rastreabilidade e a autenticidade das peças.
Cada peça receberá um registro digital único, contendo nome do artesão, local de produção, materiais utilizados e o significado cultural da arte. O processo também visa garantir que o produtor receba uma remuneração justa, com 15% repassados para a comunidade.
“Agora temos um caminho claro para seguir. Vamos expandir nossa coleção, trabalhar no desenvolvimento da tecnologia e criar mais oportunidades para que artistas indígenas se conectem ao mercado de forma justa.”
*Com informações de Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
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